domingo, 1 de dezembro de 2019




CHEIAS DE 1967 (região de Lisboa)

No passado dia 25/11, uma amiga enviou-me uma mensagem sobre este assunto. Depois de ler o texto e ver algumas imagens anexadas (a imagem que aqui anexo foi retirada de um jornal da época, creio que Diário de Notícias), parei um bocado passando em revista, da minha memória, as horas que vivi naquele serão de 25/11/1967.

Eu tinha então 19 anos e vivia na Av. Santos Dumont, muito perto da Av, de Berna. No final desse dia chovia muito, em pouco tempo a chuva passou de muito intensa a autêntico dilúvio, de tal forma que o caudal da Av. de Berna, frente à Gulbenkian, já transformada em autêntico rio, era fortíssimo e levava tudo à frente. A poucos metros, na R. Tenente Espanca, olhávamos aquele assustador espectáculo, eis quando passa a grande velocidade sobre as águas daquele "rio" a guarita do Trem Auto. Local onde fica hoje a Universidade Nova, à época era um quartel militar. Na enxurrada seguiam alguns automóveis rebolando ao sabor das águas... Entretanto, eu e os amigos que assistíamos ao fenómeno, fomos até ao cimo da Praça de Espanha para dali ver-mos como estaria aquele espaço. Naquele tempo a Praça de Espanha era um campo tipo baldio, em que passavam as estradas, continuação da Av. António Augusto Aguiar, Av. de Berna, continuando passavam a ser Av Kaloust Gulbenkian e Av. Columbano Bordalo Pinheiro. Vista da parte mais alta, a dita Praça era um autêntico lago (o terreno era bastante mais baixo do que actualmente), ficaram dois eléctricos parados no meio do "lago". Naquele tempo passavam ali os carros eléctricos de Benfica e Carnide. Embora dramático, era esteticamente bela a imagem dos eléctricos no meio do "lago", a iluminação interior fazia reflectir na água o colorido amarelo dos carros eléctricos. O palacete da embaixada de Espanha com água até às varandas! 

Chegavam-nos ecos da catástrofe que ia pelas zonas Norte e Oriental de Lisboa. Algumas  pessoas que vinham dos lados do Lumiar e Alvalade, mas sobretudo de Carnide e Lumiar, contavam que havia muitas casas submersas, mortes e desaparecidos. No dia seguinte começou a "ressaca", durante a noite a chuva parou ou reduziu muito de intensidade, era altura dos comentários, dos curiosos, os jornais referiam-se ao tema como cheias, chuva intensa, vítimas e pouco mais. Não se reportava a verdadeira dimensão da catástrofe. Como se a realidade de uma região ou de um povo não pudesse ser vista na sua totalidade após uma catástrofe natural. Havia que esconder a pobreza, as casas mal construídas, as barracas, como se um povo pobre e amordaçado (o regime) estivesse acima da força da Natureza. Assim, dias depois os jornais iam publicando os números que a censura autorizava e atingiram no final da contagem, quatrocentas e tal vítimas. Toda a gente comentava que havia muitas centenas de mortos e desaparecidos. Ficou um lastro de sofrimento, de dor e miséria que levaria anos a cicatrizar.

Dezoito anos depois, por razões profissionais, fui colocado em Odivelas e fazia todo o concelho de Loures (ainda não havia o concelho de Odivelas), além de uma faixa do concelho de Lisboa. Conheci então muitas pessoas que me contavam factos ocorridos com elas e ou com familiares. Contaram-me episódios horríveis e marcantes para as famílias. Eu que na juventude tinha vivido os acontecimentos de uma forma ligeira sem me aperceber da dimensão da catástrofe, vim então a conhecer a sua verdadeira dimensão através de testemunhas que a viveram activamente e que padeceram grandes sofrimentos, muitos perderam nas famigeradas cheias de 1967 alguns familiares. Sempre se referiam a muitas centenas de mortes.

Para que conste. E já passaram 52 anos!       

          

domingo, 13 de outubro de 2019



UM ABRAÇO - II

VOLTO AO ASSUNTO, REFLECTINDO AINDA SOBRE O ABRAÇO, SUA AUSÊNCIA. TUDO O QUE ATRÁS FICA DITO, SOBRETUDO A AUSÊNCIA DE AFECTOS, LEVA-ME A REFLECTIR SOBRE AS RELAÇÕES FRIAS E CADA 
VEZ MAIS DISTANTES QUE AS PESSOAS CULTIVAM, MESMO QUE POR OMISSÃO.

COMO PODERÃO AS PESSOAS SENTIR O CALOR E O AFAGO DOS SEUS SEMELHANTES SE LOGO DE PEQUENINAS APRENDEM AS VIRTUDES DO MATERIALISMO? CEDO APRENDEM A MANIPULAR A TECNOLOGIA E A VER O MUNDO ATRAVÉS DE UM ECRAN.  FALAM O INDISPENSÁVEL. NUNCA SE COMUNICOU TANTO E SE CONVERSOU TÃO POUCO. 

AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SÃO EXCELENTES MEIOS DE COMUNICAÇÃO. TODA A INFORMAÇÃO ESTÁ À DISTÂNCIA DE UM CLIQUE. ESSA ÂNSIA DE PESQUISAR E O SUBSTITUIR O CHAMADO MUNDO REAL PELO MUNDO VIRTUAL TER-NOS-A LEVADO À AUSÊNCIA DE AFECTOS E À MODIFICAÇÃO DA VIDA EM SOCIEDADE. 

E AQUI CHEGAMOS AO ABRAÇO OU À SUA AUSÊNCIA. O ABRAÇO TRAZ-NOS SEGURANÇA, CONFIANÇA, SOLIDARIEDADE, AMOR. ESTAS SÃO SENSAÇÕES, SENTIMENTOS, QUE NUNCA SERÃO SUBSTITUÍDOS. TEMOS DE TRANSMITIR AOS MAIS NOVOS QUE É MUITO BOM DEIXARMO-NOS ENVOLVER PELAS EMOÇÕES. O PRAGMATISMO E O CALCULISMO É PRÓPRIO DAS MÁQUINAS, NÃO DOS HOMENS.                



UM ABRAÇO



HÁ DIAS OUVI UMA FRASE QUE ME DEIXOU A PENSAR. NOS MEIOS URBANOS JÁ NÃO SE DÃO ABRAÇOS, ERA ESTA A FRASE QUE OUVI. EFECTIVAMENTE JÁ NÃO SE DÃO ABRAÇOS, COMO JÁ NÃO HÁ MANIFESTAÇÕES DE AFECTO OU SIMPLESMENTE UM SORRISO, QUANDO AS PESSOAS SE CRUZAM. AS PESSOAS VIVEM O DIA A DIA FECHADAS EM SI PRÓPRIAS, NORMALMENTE DE MAU HUMOR OU APÁTICAS. 

NÃO HÁ APENAS UMA CAUSA PARA A SOCIEDADE TER CHEGADO A ESTE ESTÁDIO.  SABEMOS, NO ENTANTO, QUANDO SE INICIOU ESTE CAMINHAR PARA O ABISMO. À MEDIDA QUE FOMOS "ENRIQUECENDO", ISTO É, QUE NOS FOMOS ATAFULHANDO POR ENTRE UM SEM NÚMERO DE OBJECTOS QUASE SEMPRE DESNECESSÁRIOS, À MEDIDA QUE FOMOS OBTENDO MAIS COMODIDADES, MAIS OBJECTOS QUE PODERÃO DAR-NOS SATISFAÇÃO POR CURTOS ESPAÇOS DE TEMPO, COMEÇÁMOS A AFASTAR-NOS DOS AFECTOS E DA ALEGRIA. A SOCIEDADE PASSOU A DEPENDER DA SATISFAÇÃO MOMENTÂNEA, A VIVER DESENFREADAMENTE A FESTA DO CONSUMISMO. 

DEIXARAM DE SE LEVAR AS CRIANÇAS PARA AS ZONAS VERDES, USUFRUIR DO AR LIVRE, ARRANHAR OS JOELHOS NAS PEQUENAS QUEDAS NA TERRA. EM VEZ DE CONHECEREM E APRECIAREM O CHEIRO DA TERRA MOLHADA PELAS PRIMEIRAS CHUVAS, AS CORES EXUBERANTES QUE A NATUREZA NOS OFERECE, EM VEZ DE TUDO ISTO, PASSARAM A LEVAR-SE AS CRIANÇAS PARA OS CENTROS COMERCIAIS.

HOJE QUANDO ALGUÉM DESABAFA COM UM AMIGO, SUGERE-SE LOGO A IDA AO PSI. OS AMIGOS NÃO TÊM TEMPO NEM DISPOSIÇÃO PARA OUVIR E AJUDAR O OUTRO. ENTÃO COMO HÃO-DE ABRAÇAR-SE? AS PESSOAS TORNARAM-SE FRIAS, MATERIALISTAS E EGOÍSTAS. 

ASSIM, APETECE DIZER: ÉRAMOS MUITO MAIS FELIZES QUANDO ÉRAMOS POBRES. OBVIAMENTE QUE SALVANDO AS DEVIDAS DISTÂNCIAS...

        




terça-feira, 10 de setembro de 2019



Já o traço não sai como saía
A alegria deu lugar à tristeza
A nostalgia substituiu o desejo
Da obra concluída 
O silêncio tornou-se mais dourado
Ainda escuto o violoncelo       mas
Igmar Bergman já partiu

Mas ainda me comovo
Perante as giestas em flor
As estevas, a urze, o rosmaninho

Sou cada vez mais um produto 
Formatado pela grande urbe

(...rural urbanizado e urbano assimilado...)  

terça-feira, 27 de agosto de 2019

"VARIAÇÕES" (filme)




HOJE FUI VER O FILME "VARIAÇÕES". ANTÓNIO VARIAÇÕES FOI UMA FIGURA MARCANTE NOS MEUS TRINTA E TAL ANOS. PORQUE AINDA ME LEMBRAVA DE ALGUMAS HISTÓRIAS ACERCA DESTE CANTOR-AUTOR-COMPOSITOR, FUI VER O FILME COM BAIXA EXPECTATIVA. ENGANO MEU, POIS A BIOGRAFIA DO HOMEM ESTÁ MUITO BEM CONSTRUÍDA E FIQUEI A CONHECER MELHOR O ARTISTA QUE FOI ANTÓNIO VARIAÇÕES.

LUTAR POR UM IDEAL, POR VEZES É MUITO DIFÍCIL, MAS ANTÓNIO VARIAÇÕES LUTOU PELO SEU, VENCENDO ENORMES OBSTÁCULOS, ATINGIU PATAMARES MUITO ELEVADOS DENTRO DO SEU OBECTIVO. FIGURA CONTROVERSA, MUITO À FRENTE DO SEU TEMPO, UM VISIONÁRIO, IMPÔS-SE NO MEIO ARTÍSTICO PORTUGUÊS, ELE QUE PERSEGUIA O SUCESSO NA MÚSICA POP-ROCK NACIONAL. FUTURISTA, ADOPTOU O "BONECO" PELO QUAL FICOU CONHECIDO SEM SE QUESTIONAR SE FICAVA BEM OU MAL, POIS ERA ELE E SÓ ELE QUE ESTABELECIA O QUE ERA O BEM E  MAL. 

SER ORIGINAL, DIFERENTE, VISIONÁRIO, REBELDE, POLÉMICO, SÓ RARAMENTE É ACEITE E SEMPRE POR MINORIAS. O STATUS QUO NÃO ADMITE SER QUESTIONADO, MUITO MENOS ENFRENTADO. 




              

segunda-feira, 12 de agosto de 2019




CORES E TEXTURAS, SEMPRE


A arte não reproduz o que vemos. Ela faz-nos ver (Paul Klee). Esta a frase que sintetizou todo um pensamento e que se mantém actual. Desde que a Arte passou a fazer-nos ver, deixou de haver uma só tendência artística, a que residia unicamente na habilidade. Com o advento da máquina fotográfica, a criação artística passou a dedicar-se muito mais ao estudo e desenvolvimento da arte não visível, não concreta, passando a interessar-se preferencialmente pel A arte não reproduz o que vemos. Ela faz-nos ver (Paul Klee). Esta a frase que sintetizou todo um pensamento e que se manté a emoção, pela descoberta do outro lado. A Arte passou a fazer-nos ver.           


quinta-feira, 8 de agosto de 2019


Quem deve sentir vergonha não é o pobre, mas quem cria a pobreza



Li esta frase de Mia Couto que me causou maior revolta contra os exploradores deste mundo. "Quem deve sentir vergonha não é o pobre, mas quem cria a pobreza". Já ouvi muitas vezes uma frase popular que poderá ter servido de ponto de partida para o Mia Couto fazer a afirmação com que iniciei esta minha reflexão. Diz-se então, ser pobre não é vergonha. 



Num mundo globalizado, em que domina o egoísmo, em que a solidariedade e a fraternidade já são obsoletas, como é possível que valores fundamentais da sociedade possam considerar-se obsoletos, endeusou-se o capital e o conceito do TER passou a ser o grande objectivo da sociedade. Passou a ser vergonha ser pobre, enquanto se enaltecem os que criam a pobreza. Os que detêm os principais meios de produção, impondo como grande objectivo a maximização do lucro, não tendo em conta os princípios da solidariedade e da fraternidade, são efectivamente os criadores da pobreza. Como se o empreendedorismo e o empresariado fossem apanágio de exploradores. Estes são realmente trabalhadores que aplicando o seu capital e a sua capacidade de gestão, criam riqueza e não pobreza, distribuindo uma parte das mais valias obtidas por todos os que contribuíram para elas.



Solidariedade, fraternidade e generosidade não podem ser obsoletas. 



              

CHEIAS DE 1967 (região de Lisboa) No passado dia 25/11, uma amiga enviou-me uma mensagem sobre este assunto. Depois de ler o texto...