domingo, 28 de julho de 2019



PROCESSO CRIATIVO


Numa exposição minha, um espectador "dispara" uma pergunta que sempre achei indiscreta. "Para pintar esta tela, baseou-se no sexo da mulher?" Ao que eu respondi, não espontâneamente. Talvez, porque não? Mas também poderá ter sido nos troncos velhos das oliveiras, dos sobreiros com e sem cortiça, nas rugas da terra seca, nos terrenos que foram pantanosos e que já estão bastante estalados devido ao calor do Sol, etc....
Indiscreta, porque o processo criativo, quando não se representa, mas se cria de raiz, em que se mergulha no nosso próprio interior, tentando dar forma e cor ao que não se vê, é querer entrar dentro de nós, é tentar de alguma forma violar o nosso íntimo.

Na minha opinião, cabe ao espectador apreciar criticamente o trabalho que o autor criou. Pode, deve mesmo, dialogar com o artista acerca da obra que observa, criticá-la e discuti-la, mas não invadir a intimidade do autor. Por mais belo e sugestivo que seja o pensado. Com foi no caso.            






domingo, 21 de julho de 2019


EPISÓDIO DA GUERRA COLONIAL


Foi muito marcante o choque perante tamanha desgraça naquele dia 4 de Julho de 1970. Aquartelamento na Missão do Bembe, distrito do Uíge, Norte de Angola. Era dia de reabastecimento, um Grupo de Combate tinha-se deslocado ao Tôto, a cerca de 35 km. Dois dias por semana fazia-se este serviço, pois era preciso abastecer o armazém de produtos alimentares. O chamado MVL, Movimento de Viaturas Logístico, um longo comboio formado por camiões civis, escoltado por viaturas militares, vinha de Luanda e deixava a carga no Comando de Sector instalado no Tôto. As diversas Companhias espalhadas na zona iam nesses dias, duas vezes por semana, fazer o reabastecimento. Na estação seca, também conhecida por época do cacimbo, fazia-se o percurso numas duas horas, mas na época das chuvas chegava a demorar-se cerca de 6 ou 7 horas para cada lado. As viaturas, sobretudo a Berliet (camião de carga) ficavam enterradas no lamaçal, pois a picada já de si bastante irregular, ficava totalmente inundada e frequentemente armadilhada, normalmente grandes buracos no chão cobertos de folhas de palmeira ou simplesmente árvores enormes cortadas e atravessadas na picada. Era o calvário dos que tinham que alinhar, para além do natural sobressalto. 

Naquela tarde, ouvi o barulho de um ou dois Unimogs (viatura igual à da foto) a chegar e um grande alvoroço ali ao lado na enfermaria. Assim que vi os Unimogs apercebi-me do desastre. Grande correria, sangue pelo chão e a azáfama na enfermaria. Não havia mais de uns 40 homens no aquartelamento, mas a maioria foi para junto da enfermaria para ajudar no que fosse necessário. Do total de 6 ou 7 enfermeiros, incluindo o responsável, um Furriel Miliciano, deviam estar uns 4. Os enfermeiros iam aplicando os primeiros socorros e preparando os feridos mais graves para a repectiva evacuação de avioneta. Todos queríamos ajudar. A certa altura o Furriel Miliciano que tinha sofrido a emboscada, grita, falta F... está em cima do unimog, enquanto se agarrava à cabeça, desesperado. Corri à viatura que estava ali fora, por entre restos de roupas ensanguentadas, armas e objectos de logística ali deixados, estava um corpo tapado por um ponche, destapei-o e vejo aquele rosto ensanguentado e de olhos muito abertos, mas já sem vida! Dei a notícia ao responsável do que sobrava do Grupo atingido, o seu desespero que já era imenso. mais aumentou. Pouco depois chegou a informação de que o DO 27 estava a caminho. Dois feridos graves e um que apresentava duas fracturas e algumas escoriações, foram acondicionados na caixa da Berliet, um grupo de ajuda que eu integrava seguiu na mesma caixa aberta. O avião chegou de imediato e levou os feridos (um muito grave) para Luanda. A pista distava cerca de um quilómetro do aquartelamento. Cansado e triste deixei escorrer a água do chuveiro para tentar lavar o corpo e a alma, mas esta estava muito deprimida. Ainda no duche pensei, eu que tinha um grande pavor de alguma vez ter de passar por isto tudo, pensei mesmo que não resistiria, ajudar a carregar feridos, segurar frascos de soro, etc., mas nem tempo houve para pensar nisso, agora ali estava eu. 

Uma hora depois, no bar, bebíamos uma cerveja e o responsável pelo Pelotão destroçado, branco amarelado, tristíssimo, com a cerveja na mão, disse: hoje fazia 21 anos. Fazias não, fazes, pois estás vivo, àh! pois estou, respondeu o Furriel Miliciano. Daquele Grupo de Combate composto por 28 homens, sobraram ilesos 10. 11 mortos, 6 feridos e 1 desaparecido. Éramos todos tão jovens!         

"...Malhas que o império tece, está morto e arrefece o Menino de Sua Mãe..."
                        

       



quarta-feira, 17 de julho de 2019

EM JEITO DE COMENTÁRIO AO BLOG ESPÍRITO DA TERRA


LENDO O TEXTO DE CONTENTAMENTO DO MEU AMIGO ÁLVARO ESPADANAL, COM O QUAL EU CONCORDO ABSOLUTAMENTE (PORTUGAL GANHOU O CAMPEONATO DO MUNDO EM HÓQUEI EM PATINS), OCORREU-ME UM EPISÓDIO VIVIDO HÁ UNS 20 ANOS OU MAIS. NA RTP, NUM PROGRAMA DO JÚLIO ISIDRO, ESTE ENTREVISTAVA O PROF. MONIZ PEREIRA E PERGUNTOU-LHE PORQUE É QUE O PROFESSOR AO REFERIR-SE AO FUTEBOL PROFISSIONAL DIZ QUE ESTE NÃO É UM DESPORTO. DISSE ENTÃO MONIZ PEREIRA QUE O FUTEBOL PROFISSIONAL ERA UM ESPECTÁCULO ORGANIZADO E GERIDO POR EMPRESAS DE ESPECTÁCULOS, TENDO-SE TRANSFORMADO NUMA INDÚSTRIA, MOVIMENTANDO MILHÕES E MILHÕES DE EUROS. ORA, SENDO UMA INDÚSTRIA E TENDO COMO OBJECTIVO O LUCRO DE ALGUNS, NÃO PODIA TRATAR-SE DE UM DESPORTO PURO E SIMPLES.

VIVA O DESPORTO! VIVA O CAMPEÃO DO MUNDO DE HÓQUEI EM PATINS!   

sexta-feira, 12 de julho de 2019





Interessa-me a inquietação que o meu trabalho, a minha obra, possa causar, as questões que possa levantar. Não tenho respostas, mas muitas dúvidas. A emoção, a instabilidade e a inquietação que possa motivar, são estímulo para eu criar.
   
                (Luís Fernandes, extraído do site: www.pintorluisfernandes.com) 

quinta-feira, 11 de julho de 2019


DIA DE GRANDE CALOR


Hoje vim para casa mais cedo do que o habitual, disposto a escrever um texto grande e profundo, mas não será hoje, dia de grande calor. Fico apático, parado e pensar já é um esforço enorme... As palavras chocam umas com as outras, não conseguem compor-se em frases e, assim, desordenadamente, não poderei escrever. 

O gesso não seca, a aguarela e os pastéis não me  satisfazem, o trabalho de maior fôlego do óleo sobre tela com as colagens e as pastas, exige maior concentração e entrega. Espero que o calor passe.
    

domingo, 7 de julho de 2019




ANGÚSTIA DA FONTE QUE SECA


FREQUENTEMENTE VEM-ME À MEMÓRIA UMA FRASE DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES,  "TENHO RECEIO QUE UM DIA A FONTE SEQUE" (cito de cor). COMO O ENTENDO! NOS ÚLTIMOS TEMPOS SOU ASSALTADO POR UMA ANGÚSTIA COMO SE JÁ NÃO TIVESSE NADA CÁ DENTRO PARA TRAZER À LUZ DO DIA. ENTÃO, INTERROGO-ME, PARA ONDE FOI A MINHA CRIATIVIDADE? AINDA HÁ POUCO TINHA TANTAS IDEIAS, TANTAS IMAGENS E PROJECTOS PARA DESENVOLVER, FUGIRAM? NÃO PODE SER, ELAS VOLTARÃO. E VOLTA A ESPERANÇA, AOS POUCOS AS IMAGENS VÃO-SE ORDENANDO NO MEU CÉREBRO E VOLTARÃO A TORNAR-SE MATÉRIA PALPÁVEL, VISÍVEL. A ESPERANÇA...          
E QUANDO JÁ NÃO SEI QUEM SOU OU O QUE SOU, ELEVO O MEU PENSAMENTO, REFLICTO, REFUGIO-ME E PERCO-ME NAS IMENSAS MARAVILHAS QUE A ARTE E A NATUREZA NOS OFERECEM.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Notícias da Beira, poema de António Salvado que me acompanha desde finais dos anos 80 do Século passado, traz-nos o cheiro da esteva, do rosmaninho e da macela. As cores da seara e da giesta, as rugas da terra seca, imagens de sobreiros e oliveiras, as formas do granito e do xisto em lâminas repartido. Chamo-lhe "Saudades da Beira"...


   

CHEIAS DE 1967 (região de Lisboa) No passado dia 25/11, uma amiga enviou-me uma mensagem sobre este assunto. Depois de ler o texto...